terça-feira, 27 de outubro de 2020

O instante mágico

(Crônica escrita em dezembro de 2014)


A correria urbana de minha vida leva quase todo o tempo que me foi colocado por Deus, para os afazeres ditos de sobrevivência. Porque se não trabalha, não come. Ditado mais certo que esse, impossível. Não faça nada, e espere para ver no que dá.

Mas, toda noite percebo que o dia passou, e embora tenha feito tanta coisa, na realidade parece que não fiz nada. Fico com a impressão que deixei passar o momento, mais uma vez, no qual eu poderia ter dado rumo a acontecimentos, onde possivelmente minha vida mudaria, e não soube reconhecer esse momento. Não soube reconhecer o instante que uma porta se abre, todos os dias, para orientar naquilo que possa fazer a diferença em meu caminho.

Será que as portas não se abrem porque não sabemos bater direito? Ou será que se fecham porque as muralhas impostas por nós mesmos tornam-se instransponíveis?

Perguntas que me faço todas as noites ao deitar, e às quais não consigo encontrar respostas satisfatórias.

Vida que foi mal passada a limpo, deixa vestígios no rascunho que fizemos dela. Por isso, se o rascunho ainda estiver disponível, é hora de ir atrás dele e tentar refazer a história. Apagar os momentos de raiva e rancor, tirar os diálogos que possam causar dupla interpretação, colocar mais asteriscos em fases que foram boas, para lembrar de detalhes que deixamos passar e que seriam importantes para a felicidade estar presente. Usar a borracha sem dó em momentos de brigas e discussões, que possam ofuscar o brilho de uma vivência feliz. Tirar obstáculos como desconfiança, falta de respeito, intolerância, pois podem, com o tempo, se transformar em grandes pedras na estrada da vida.

Afinal, um rascunho pode ser alterado a todo momento. Mas depois do original pronto e passado adiante, não temos mais nada a fazer.

Acho que agora, vou procurar o rascunho da minha vida. Quem sabe ainda o encontre, e posso alterar aqueles lapsos que possam ter trazido os percalços por que passei, e quem sabe, ainda possa ser feliz.

E à noite em meu travesseiro, talvez eu encontre as respostas e as soluções para aqueles instantes que deixei passar sem perceber, e possa reconhecê-los para aproveitar os ensinamentos que possam trazer.

Porque no final das contas, só a mim pertence o meu futuro e a minha felicidade, e a ninguém mais.

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