segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Escravos de academia

(Crônica escrita em 16/04/2009)


Com a mídia ‘malhando' em cima dos seres humanos com o protótipo ideal de ‘saúde' e beleza, a paranóia tomou conta de crianças, jovens e idosos.

Não se vê mais um ser satisfeito com sua aparência ou estado físico. Alguns se acham com barriga demais ou de menos, pernas finas ou grossas demais.

E com isso passam na academia todo o tempo que tiver livre. Tortura voluntária, e, o que é pior, valores ofensivos demais. Nas academias gira um valor exorbitante, onde muitos deixam de comprar pão para poder ficar amarrado em correntes, e com pesados ferros nos tornozelos. Outros carregam nos braços argolas de aço em nome da musculação. Além, é claro, de ficarem horas correndo em esteiras, pedalando como se estivessem fugindo de vampiros, ou erguendo pesados alteres.

Se analisarmos com frieza, escravidão é pouco. Porque, ser escravo por livre e espontânea vontade, de algo que embrutece e aniquila as forças totalmente, no mínimo é loucura.

E essa loucura é comandada pela "lei": "seja mais belo que o vizinho".

E aí fica a pergunta:

Para quê? Que falta vai fazer essa tal academia, tortura gigantesca que faz inveja aos mais sádicos campos de concentração?

Que bom poder sair a passear, conversar com os pássaros e borboletas, tirar foto de uma flor, ou simplesmente sorrir para o sol ou para a chuva.

E que me diz de uma conversa saudável e gostosa com algum conhecido?

Alguns diriam: "Isso não existe mais!" O correto é ficar com as pernas cheias de bolas como jogador de futebol, os músculos protuberantes como boxeador e a barriga com nesgas de esfregadeira de roupa.

Aliás, a mídia diz que é assim que deve ser.

Mas, os proprietários das academias, estão com a bela barriga de prósperos comerciantes.

Cada um na sua, não?

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